Esses versos, mini-poemas e haicais, são momentos significativos – como uma ilustração cada um, como uma foto. Cantam, muitas vezes, o bom humor, a reflexão, a percepção, a reinvenção, o flagrante. Ser poeta, para mim, também é poesia nas minhas vivências diárias. É perceber o que a vida tenta sufocar. Notar a beleza do que é perecível. Hoje a árvore está florida; as flores multicores no chão constituem uma sublime pintura na paisagem. Passam-se uns dias, flores e folhas, todas morrem e caem, o vento leva tudo. A árvore seguinte assume a responsabilidade da beleza, suas folhas vermelhas e marrons colorem a vista. Quantos passam por ali sem aproveitar do afetivo que o mundo tenta nos presentear? As rotinas exaustivas, os sufocos, as emergências, os boletos, as relações desgastantes tentam eliminar todo o brilho de nossa alma, toda a luz de nosso olhar. Mas, para onde olhamos? O que podemos perceber ao nosso redor para nos ajudar a resistir? A resistência também se faz de alegria e lirismo. Também se faz perceber o sensível e o efêmero. De cada pingo de dor, uma fresta de ar fresco, um feixe de esperança. Muitas vezes o caos nos apresenta um convite para abandonar o jogo. Mas as cartas que o vento traz de repente estão em nossas mãos. São novas cartas, nos refrescam, nos anima. Não estão conosco para que possamos vencer, aparecem para serem interpretadas e nos fazer continuar dançando. Sigamos.